O legado de Dante

Por Eduardo Negrão

Calma leitor, não me refiro ao gênio italiano, Dante Alighieri do sec. XIV e seu inquestionável legado para língua e cultura italiana; mas ao maestro homônimo, Dante Mantovani, que ocupou a presidência da FUNARTE – Fundação Nacional das Artes – durante o 1º e 2. anos da gestão Bolsonaro. Um dos seus principais projetos foi a realização de um convênio, assinado em dezembro de 2019, com a UFMG para a restauração completa de todos os imóveis sob tutela da Funarte, dentre os quais o CEDOC – Centro de Documentação da Funarte – que possui o maior acervo da arte brasileira em suas múltiplas manifestações: música, teatro, desenho, ópera, artes plásticas e cinema.


Agora, Dante, vê com perplexidade que após sua saída em março de 2020, as obras não só não evoluíram, como retrocederam = o prédio onde fica o CEDOC foi interditado por tempo indeterminado.


Já o Edifício Gustavo Capanema, patrimônio tombado pelo IPHAN, Instituto de Preservação da História e Arte Nacional e já se fala em venda do imóvel pertencente à União. O curioso é que antes de sair da FUNARTE o então presidente Dante já havia destinado os recursos para as obras de restauração. Verba que, como reza a tradição brasileira, sumiu.


Não para por aí, o FORMASTER – Fórum de Maestros e Mestres de Música do Brasil – enviaram uma carta aberta a UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, cobrando a aplicação de recursos destinados ao projeto SINOS – Sistema Nacional de Orquestras Sociais. Foram polpudos dez milhões de reais, enviados pela Funarte na gestão de Dante Mantovani. Maestros de todo o país reclamam quanto a falta de transparência na aplicação desses R$ 10 milhões.


Enquanto Presidente, Dante lutou para incutir na FUNARTE conceitos como gestão cultural eficiente e administração de patrimônio cultural e imobiliário, já que a autarquia é proprietária de vários imóveis de grande valor em várias capitais. Tentou trocar o utópico ‘amor pela arte’ pelo ‘labor pela arte’ e com isso, claro, enfrentou forte resistência. A mentalidade dominante no mundo das artes e instituições governamentais que gerenciam a mesma é “o governo proverá” como se os recursos não saíssem dos bolsos dos trabalhadores e empreendedores brasileiros através dos impostos.


Verdade seja dita: após a saída de Dante Mantovani da presidência da FUNARTE, já passaram 4 presidentes pela instituição, as reformas dos prédios não andaram, o CEDOC foi interditado, a sede da Funarte em Brasília foi entregue ao Governo do Distrito Federal, o Edifício Gustavo Capanema , ainda sede da instituição, está em vias de ser vendido, sendo que o atual prédio que a Funarte ocupa no centro do RJ custa mais de 20 milhões em aluguel por ano.


O Maestro estava afinando a Orquestra da Cultura, será por isso que foi tão perseguido pela grande mídia e pelos que têm ojeriza pelo trabalho? 


Eduardo Negrão é analista político (Instagram: @prof.eduardonegrao)

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